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☝️ Resumo de Em Busca do Tempo Perdido, do Marcel Proust. Contém spoilers.

Mini-sumário para fãs de auto-ajuda

O livro conta a vida do Marcel, que tem o mesmo nome do autor. Cresce rico e é uma seca. Quer ser escritor mas no livro todo não escreve nada.

Há as pessoas estáveis como os pais de Marcel, a família Guermantes em geral e os Verdurins. Todos estes possuem uma vida normal, casa, trabalho, férias, e dão festas. Em cima destes planos, circulam os indivíduos ultra-sensiveis com atração pelas artes, como o Marcel, o Swann, o Saint-Loup, e o Barão Charlus. Este segundo grupo passa a vida a apaixonar-se de forma descontrolada, tentam dominar amores que não duram, e acabam quase sempre a comer gelados com a testa, em grande parte pelo esforço excessivo aplicado nas suas consquistas pouco correspondidas. Gastam o seu dinheiro e esbanjam o seu tempo. No fundo, o livro detalha a novela humana usando a paixão e o ciúme dentro das classes e entre elas.

O personagem principal Marcel cresce, apaixona-se pela Gilberte e depois pela Albertine. Não consegue nenhuma das duas.

Os personagens movimentam-se numa época que desapareceu (~1900), mas o escritor transcende-a através do detalhe que demonstra o carácter intemporal da alma humana. Por exemplo, abundam as doenças que já não existem, mas tal como hoje os médicos e charlatães partilham a arrogância de propor muitas soluções que pouco mais oferecem que esperança. De forma mais abrangente, a sociedade descrita é muito diferente da nossa, começando com a própria palavra “sociedade”. No livro é usada sempre na definição original do séc. 16, isto é, uma associação íntima de pessoas com vista a uma finalidade partilhada. Na prática, quando Marcel diz “Sociedade”, quer dizer estritamente a alta sociedade dos nobres, aristocratas e intelectuais. Mas apesar deste elitismo verbal, o autor também faz o trabalho de ilustrar o pedantismo e antisemitismo das elites. Do lado oposto surge o povo, descrito através de um colectivo de gente cheia de maneirismos de classe, e limitados ao conhecimento das suas tarefas e tradições. Mas o Marcel mostra a astúcia destes trabalhadores e serventes. São protagonizados pela empregada, o alfaiate, os chocheiros, atores e músicos, e são personagens que vão cortando a narrativa com um efeito leve, e por vezes cómico. No final, tudo dá a volta: os pobres ficam ricos, os ricos ficam aristocratas, e as pessoas importantes passam a desconhecidas.

Resumo médio que prova que li tudo

Volumes 1 a 7

Resumo longo por calhamaço

Volume 1 - O Palerma do Senhor Cisne

Nota: Nas traduções este livro chama-se “Do Lado de Swann” (PT), ou “Swann’s Way” (EN).

Então o narrador é o Marcel, um miúdo que partilha o nome com o autor do livro. O Marcel começa este épico a contar o seu trauma de criança em que era filho único e passava a vida rodeado de velhos, com os pais conservadores, a tia maluca e a empregada. E conta ao longo destas páginas a história dos tempos que passou na casa de férias da família em Combray, França. Aí, o o puto Marcel alonga-se a descrever a vila e as casas e os campos, e o sol, e o vento, e o mar, bem como os vários convidados que eram a norma às refeições, e claro as próprias refeições. Estas longas descrições mostram que a vida era uma seca antes da internet e dos inter-rails, tanto para os personagens adultos, as crianças, e os leitores deste romance do início do séc. XX.

O complexo de Édipo sobressai desde o início, e mostra que a personagem principal, o narrador, Marcel, é um tipo meio apalermado como todas as pessoas sensíveis, e que tem uma dependência irracional da sua mãe. Parece que nasceu em 2020, mas ao contrário das dependências modernas, a mãe não lhe liga puto. Esta vê o filho pela lente das regras de educação clássica, com horas e maneiras de falar e companhias, e pobre do miúdo que só queria um beijo de boa noite. Aliás o Marcel não podia ser outra coisa senão um esquisitóide, nascido numa família assim, filho único, e rodeado de velhos pretensiosos e que notoriamente tinham muito pouco trabalho nas mãos.

O menino tinha tanta sensibilidade e poder de observação, que queria ser escritor. E por isso, grande parte do livro é uma charopada de igrejas, riachos, jardins, comboios, ruas de Paris, coches, cavalos e empregados e casas e cortinas e roupas e chapéus e comidas.

Em cima deste passeio sobre a França de 1900, e depois de uma longa introdução, o livro foca-se num Charles Swann, que durante uns tempos frequentou os almoços e jantares da família. Ele ia sozinho aos eventos, nunca levava a mulher. O livro embala então numa história retrospectiva de mais de duzentas páginas sobre a vida do tal Swann, começando quando ele já era um adulto. Também era um tipo sensível como o narrador, e estava a par do que era moderno e moda na altura, intelectualmente e com as suas roupas. Este Swann também não fazia puto, procrastinava em cima de umas coisas de artes, e conhecia toda a gente, até príncipes. Ora o senhor Swann tinha tido uma relação platónica com uma Odette, que também aparecia em eventos sociais comuns, uma fulana banal. Ela gostava imenso do status do Swann, e ao longo da história ele vai-se afeiçoando a ela mas nunca se faz ao bife, simultaneamente cavalheiro e altivo, e só às vezes tenta dar-lhe uns apertões no vestido, tipo puto de 16 anos. Ela deixa, e ele fica ali a bater na mesma tecla, com declarações e joguinhos pirosos, mas ela rapidamente se farta desta brincadeira ridícula, e começa a ignora-lo. É neste momento que o coração do Swann se estatela, e passamos imensas páginas a ver que quanto mais ela o ignora, mais ele gosta dela. Aliás, ele gosta e gasta, porque se percebe que lhe banca muita coisa. Então, à medida que vai perdendo a cabeça vamos percebendo que alguns amigos dele o vão tentando chamar à razão. Dizem-lhe que ela é isto e aquilo, que é vista na companhia de outros gajos, e ele vai constatando que sim, que ela tem outras relações de amizade, e que ela gosta imenso da atenção dos homens e que agora já não é a dele que procura, mas ele não liga a isso, aliás fica até mais picado. Isto perdura no tempo, e mesmo com ela a envelhecer, a encoirar, ele não perde interesse.

Vai atrás dela e faz uma coisa que funciona super bem que é pressioná-la (NOT). Pede-lhe coisas, insulta-a, vai atrás dela.

Até que chega ao ponto do clímax em que alguém lhe manda uma carta anónima a insinuar que ela já dormiu com não sei quantos e até uma ou outra mulher.

Isto reduz a imagem da pureza dela, mas não aniquila o encanto. O Swann, ainda enfeitiçado, confronta-a e ela lá diz sim, sim, já fiz isso tudo, “umas duas ou três vezes”, uma admissão da estatística sobre números pequenos que deve ser frase mais bem escolhida no livro. E lá se vai a paixão tremenda, e ele passa a racionalizar muito a Odette. Mas perdura uma atração por ela, até porque ele é um tipo pragmático e essas coisas da reputação e tal são meio vagas. Pois, porque ele é de uma classe média endinheirada, fruto de investimentos de família, coisa que não lhes dá direito ao respeito máximo do pai e avô do Marcel (o narrador), pai aliás que também deixa claro que a família Swann é judia.

Depois do arquétipo do gajo que leva uma tampa de uma miúda, o narrador Marcel lá volta à sua própria vida de miúdo, pois ele ao crescer também se tinha apaixonado por uma miúda nos Campos Elísios em Paris, com quem brincava, a Gilberte. Ele conta como foi caindo de beicinho. Felizmente esta relação é mais rápida em número de páginas.

Mas depois há uma surpresa no livro, …, esta miúda é filha do tal Swann! Tcha-nan!! E o miúdo lá fica embasbacado, afinal o Swann é que é, até porque é o pai desta brasa. Umas curtas páginas mais adiante, nova surpresa (NOT), a mãe da miúda é a Odette, aquela que o senhor Swann andava atrás, aquela que tinha a má vida e que ignorava o Swann, mas que agora está transformada na senhora Swann.

Afinal parece que o burro Swann lá se decidiu, e ignorou toda a história dela, e a Odette lá quebrou e o deixou de o afastar, e casaram-se e têm uma filha.

O puto Marcel vai tentando estabelecer contato emocional com a Gilberte, e tentar de alguma forma tornar Swann num tópico de conversa, mas nem a miúda nem os seus próprios pais parecem muito interessados na sua paixoneta. Por um lado, os seus pais não querem muito saber do Swann, que apesar de ser um tipo interessante e bem conectado não é de uma casta perfeita imune a mexericos, ainda para mais tendo casado com a tal Odette, esta sem nenhuma casta. Já a miúda aplica a mesma estratégia ao narrador que a sua mãe Odette aplicou ao seu pai, ou seja caga de alto nele, tornando claro que qualquer festinha com os outros amigos é tão boa ou melhor que brincar com ele.

O livro acaba com o narrador frustrado, sem direito sequer a um apalpão, coisa que até o Swann teve direito enquanto a sua amada Odette se passeava com outros. #Sad.

Volume 2 - De Férias com o Diabolo

Nota: O nome correto das traduções é “À sombra das raparigas em flor” (PT), ou “In the Shadow of Young Girls in Flower” (EN) ou “Within a Budding Grove” (EN).

O segundo volume começa na sequência do primeiro, e conhecemos o Marcel a amadurecer como um jovem, sem nunca deixar de ser um tono monumental. (Este é o resumo, podem saltar para o próximo livro.)

Não se percebe bem a idade dele, mas sabemos que o Marcel é amigo da Gilberte, e passa imenso tempo em casa dela, que é a casa dos Swann. Numa dessas festas conhece Bergotte, um escritor super conhecido e que ele passa a idolatrar. A sua família acha que o contato com pessoas artísticas o vai ajudar a ser um bom escritor. O Marcel desconfia, acha o Bergotte um génio mas lá em casa dos Swanns só dá conversa, e ele não parece estar a evoluir a escrita. Mais, a miúda Gilberte ora se aproxima, ora se afasta, e o puto começa a fartar-se. Vira a atenção para a mãe dela e as suas roupas de casa de seda, e dá-lhe flores e ignora a filha.

Um colega do trabalho do pai do Marcel, o Norpois, diz aos pais do Marcel que o Bergotte não é grande escritor, mas por outro lado diz-lhe que o Marcel até escreve qualquer coisa.

As pessoas têm sobretudo criados. Há uns personagens que já meteram eletricidade em casa, e outras têm telefone. O Marcel tem saúde fraca.

Num verão o jovem vai para Balbec com a avó, junto ao mar. Na viagem, o Marcel convence a avó a pagar-lhe álcool e ele apanha uma farda descomunal no comboio.

Lá em Balbec, reúne-se com o amigo Bloch, judeu e maluco, cujo pai diz que conheceu a mulher do Swann em primeira mão como prostituta.

O Marcel conhece também um pintor reputado, Elstir. O Elstir é obcecado pela mulher, que parece ao Marcel bastante normal. O Elstir apresenta-o à grupeta de miúdas populares nesta vila junto ao mar. Albertine é pobre, Andrée é rica, e há outras. A Albertine diz-lhe que gosta dele, mas quando o Marcel tenta dar-lhe um beijo ela afasta-o. Ele fica na boa, e acaba meio apaixonado pelo grupo todo.

Mesmo antes do fim, uma velha leva com um diabolo na cabeça [1]. Fim do segundo livro.

[1]. Sim, tive de repetir a passagem do livro umas 3x. Um diabolo? Fui à net e confirmei que o “diabolo” mencionado no livro é o mesmo brinquedo que esteve na moda durante os anos 90, só que agora sei que já era popular em 1900.

Volume 3 - Os Guermantes são Peneirentos

Nota: O nome real do livro é “O caminho de Guermantes” (PT), ou “The Guermantes Way” (EN).

No terceiro volume a a família do Marcel muda-se para Paris. Agora moram num prédio. O Marcel nota que os criados copiam as expressões e os protestos que os criados dos vizinhos dirigem aos patrões.

São vizinhos dos influentes Guermantes. O Marcel anda meio obcecado pela madame de Guermantes, a vizinha que não lhe liga puto. O jovem decide visitar um amigo que vive encostado ao quartel do serviço militar, o Robert Saint-Loup, que é sobrinho dela, para lhe pedir uma introdução sob uma desculpa esfarrapada, e depois uma um bocado melhor. O amigo Robert está por sua vez caído por uma fulana de reputação duvidosa, Rachel, uma Odette 2.0 que o maltrata enquanto ele anda atrás dela a dar-lhe jóias caríssimas de 30 mil francos. Aliás, esta Rachel é a mesma que o louco Bloch tinha apresentado ao Marcel numa dessas casas da especialidade, e que cobrava nada, por tudo.

O caso Dreyfus rebenta na França, e divide o país e várias famílias, e o Marcel mais ou menos incompatibiliza-se com o pai.

Nota bibliográfica: o caso Dreyfus aconteceu entre 1894 e 1906, quando o capitão de 35 anos Dreyfus foi acusado e julgado culpado de traição e passar segredos à Alemanha. A familia combateu a acusação, e descobriu-se que o caso tinha sido martelado, com provas forjadas, e falta de procedimentos legais. No meio disto, descobre-se um verdadeiro culpado, mas o exército ignora esses dados e forja um segundo julgamento para ilibar o verdadeiro autor, que acaba por fugir para Inglaterra, onde mais tarde assume a sua culpa. O caso opôs os Dreyfusards, e os anti-Dreyfusards. Os primeiros eram republicanos, para quem a defesa da justiça era elementar. Os segundos eram militaristas, nacionalistas, ou seja não queriam que a honra do Estado fosse atacada, e tinham diferentes graus de anti-semitismo. Porque Dreyfus era judeu. O caso dividiu a França. Foi neste caso que surgiu o famoso artigo “J’Accuse!”. Foi também na sequência das divisões que o caso causou que o termo “intelectual” se popularizou em França e Inglaterra, sendo usado para designar (negativamente) os homens letrados, que ao início suportavam todos o Dreyfus.

A avó do Marcel fica doente. Três médicos diferentes tentam curas avançadas, como dar-lhe leite. E ela morre.

Os Guermantes do livro são afinal duas sub-famílias, com distinções nos seus títulos, soberba, arte, relações e dinheiro. As distinções parecem importantes para eles, e para o autor que lhes dedica umas 200 páginas, mas passam rápido. O que interessa é que o Marcel é convidado para um evento onde a madame Guermantes está a dizer coisas venenosas sobre metade da França e um décimo da aristocracia europeia. Pouco depois, o Baron de Charlus, que também é Guermantes (!) acusa o Marcel de deitar veneno sobre ele. Faz uma cena, diz que o odeia e tal, mas depois vai levá-lo a casa e passa-lhe a mão na cara e fica a forte impressão que o velho queria mais qualquer coisa.

No fim, o Marcel recebe um convite para uma festa da Princesse de Guermantes, e enquanto vai perguntar se o convite é verdadeiro à madame Guermantes e ao marido, aparece o maluco do Swann que anuncia que vai morrer em breve. O casal ignora o Marcel e a doença fatal do Swann: só faltam 10 minutos para irem a um evento, e têm mesmo de ir.

Volume 4 - A Sodoma e a Gomorra

Nota: O nome real do livro é esse mesmo, “Sodoma e Gomorra” (PT), ou “Sodom and Gomorrah” (EN).

O quarto livro começa com o Marcel no pátio do prédio. Lá, apanha o alfaiate Jupien e o Barão Charlus enrolados, primeiro num canto do pátio, e depois na loja do primeiro.

Vai à festa da Princesse de Guermantes que suportamente tem uma fonte incrível no jardim. Na festa começa a notar nos vários os homossexuais, que na época se chamavam “invertidos”, e a comentar sobre a sua vida, coisa que perdura por todo o livro.

O Swann é escoltado da festa pelo Prince de Guermantes, e toda a gente fica chocada. O Swann depois explica ao Marcel que saiu da festa por ser um Dreyfusard, mas (surpresa) que não é por o Prince ser contra isso. Pelo contrário, ele confessara-lhe que um general lhe disse que o processo de condenação de Dreyfus estava cheio de ilegalidades, o que converta o general e depois o próprio Prince, mas que às vezes tinha de manter as aparências.

A casa de Guermantes perde algum valor social, e a dos Swann ganha. Metade é porque a Odette agora é a musa do escritor Bergotte, que volta a estar na moda, e metade é porque a filha Gilberte herda de um tio do Swann muitos milhões de francos.

A aristocracia vai sendo penetrada a pouco e pouco pela classe média e burguesia, sob a forma de visitas técnicas de médicos e artistas, ou de casamentos com industriais.

Marcel volta para Balbec. Pensa bastante na avó, mas passa dos dias no jogo do gato e do rato com a Albertine, a amiga pobre do grupo que tinha conhecido na primeira visita à pequena vila no mar. Ela deixa claro que tem outros planos. O Marcel inventa que afinal gosta é da amiga rica dela, a Andrée. A Albertine entende e fica super feliz por eles e portanto atira-se ao Marcel e começam a andar enrolados.

No hotel, a interação entre duas jovens e entre uma moça e a Albertine fazem-no suspeitar que ela é lésbica, ou pelo menos bissexual.

O Marcel aluga um carro para dar passeios com a moça. Descobrem que num automóvel as distâncias parecem mais curtas, e podem visitar duas ou três vilas numa tarde. A mãe e a empregada Françoise ficam chocados com o dinheiro que ele gasta com a Albertine.

Passa um avião, coisa raríssima no início do século, e ele emociona-se.

O velho do Barão de Charlus anda metido com um violinista de origens humildes, o Morel. Tenta controlá-lo como pode, incluindo inventar um duelo no qual tem de participar para salvar a honra do Morel, para que este se sinta obrigado a ficar com ele. Funciona.

O casal Marcel e Albertine assumem-se como primos e integram o grupo exclusivo que participa nos eventos obrigatórios de férias dos Verdurins, onde estão engrandecidos o médico Cottard e o académico Brichot, e o Barão Charlus e agora Morel, estes que também acham que são um casal secreto.

O Marcel começa a fartar-se da Albertine, a vida está uma seca, e dá uma boa notícia à mãe quando lhe diz que vai cancelar a relação.

Diz à Albertine que tem outros planos, que está a estupidificar, e inventa que quer mudar de ares e ouvir música de um tal Vinteuil. A Gilberte compreende, e diz-lhe até que o pode ajudar, porque conhece a filha do compositor. Aí o Marcel fica em pânico, porque sabe que a filha do compositor é lésbica, e explode o ciúme por esta inclinação da Albertine. Inventa que tinha um noivado que quebrou e que só a amizade colorida da Albertine o mantém, e pede-lhe que vá com ele para Paris.

A mãe acorda estremunhada e ele diz-lhe quer casar com a Albertine.

Frases fixes

Volume 5 - O controlador ciumento

Nota: O nome real deste volume é mesmo “The Prisoner” (EN) ou “The Captive” (EN) ou “A prisioneira” (PT).

Apesar de o Marcel ter dito à mãe que queria casar com a Albertine, não leva essa avante. Mas arranja maneira de a Albertine ter de se mudar para casa dele em Paris, para ficarem amigos e tudo o mais. Vivem em quartos separados mas acabam sempre nos marmelos à noite. A mãe do Marcel desaprova, mas não diz nada. A empregada Françoise desaprova muito vocalmente.

Percebe-se de raspão que o Marcel e os seus amigos todos já tem mais de 20 anos.

No pátio do prédio, o Baron de Charlus continua a visitar o alfaiate Jupien e o violinista Morel, e ajuda a vida destes com dinheiro e favores, e manda também umas rasteiras a cada um para que não saiam do seu controlo. O Barão gosta mais do Morel, porque toca muito bem. Mas é doido, como se vê pela atração que tem pela ideia de engravidar uma mulher e fugir, só pela piada.

A Albertine é visitada pela amiga Andreé no seu quarto. Quando se cruzam, Marcel pergunta à Andreé se a sua amiga se porta bem, se ela não se mete com outras. A Andreé diz “claro que não”, ou seja, fica claro que elas as duas às vezes dormem juntas. Pelo menos, o Marcel suspeita disso.

O Marcel vai conseguindo o controlo que quer sendo generoso e atencioso, e ao mesmo tempo inferniza os planos da moça de uma forma ligeira mas tinhosa. Ora vai acompanha-la a sítios onde ela queria ir sozinha, ora sugere um plano melhor, ou outra coisa qualquer. Ele de qualquer forma também continua a ter umas amigas, mas se alguém delas tem ciúmes dele, não lho demonstra.

O Swann morreu. 
O Marcel quer muito ir a Veneza, fala disso várias vezes. Mas nunca não vai, fica atracado à Albertine com medo que alguém desperte nela o demónio lascivo que ele cada vez mais supõe que habita nela. Como vivem juntos, as suas conversas casuais e com as pessoas ao seu redor vão-lhe dando para colecionar partes da história dela. Quantos mais factos ele tem, mais contradições encontra em coisas provavelmente irrelevantes, mas vai ficando mais obcecado, como um tarado.

Ao longo do livro atribui muitas vezes a doença neurastenia aos seus personagens.

Nota: A julgar pelo inglês, pronuncia-se neurasténia. É uma semi-doença que saiu do vocabulário médico moderno e que servia para explicar a fraqueza que vem de um sistema nervoso cansado, uma exaustão física e psicológica que traz irritabilidade de humor depressivo. (Parece bastante atual por acaso). Faz lembrar a apoplexia que o Eça de Queiroz usa nos Maias para descrever 50% das mortes, doença que englobava as mortes repentinas que vão do AVC ao enfarte.

Vão a um concerto em casa dos Verdurins, onde o Morel toca. A banda de músicos era uma sonata do Vinteuil que dura uns bons 30 minutos de descrições. Lá, a madame Vinteuil fica chateada que o Charlus é o centro das atenções, ao introduzir o Morel e a arte e tudo o mais, e verte um veneno hábil aos ouvidos do Morel para o pôr contra o Barão de Charlus. Este estava no quarto ao lado, e quando entra nota que algo está errado e sente que é ele. Sem saber de onde veio a afronta, vai-se embora. Nunca mais volta a essas festas.

Dez minutos depois, os Verdurins são super generosos com outra pessoa. Isto deixa o puto Marcel confuso. Afinal as pessoas fazem bem e mal.

Vão ao mercado ao ar livre no Trocadéro. No 5º livro o enredo é mais sobre as personagens, e mesmo assim o enredo não evolui muito, é super lento, mas há menos descrições de lugares e coisas.

O Marcel não diz aos amigos que a miúda está lá a viver, continua um creep. Continua a descobrir por conversas com os amigos velhos que ela ora esteve aqui ora ali, e ele reconstrói que no fundo a Albertine gostava era de tudo. Tendo nascido pobre, habituou-se a ser convidada em casa dos ricos, a não dizer que não e a não expressar grandes vontades. Esta forma calma permite-lhe dizer que sim quando alguém a puxa, enquanto os amigos Marcel e Andrée se desdobram para estar com ela. Nota-se que ela tem gostos, e vai aprendendo do Marcel e outros história, arquitetura, moda, e que aprecia isso no Marcel e restantes.

O Marcel começa a aperceber-se que está a abdicar de muito, e não está assim tão feliz, que isto tudo pode não valer a pena. Até porque a Albertine não parece feliz, o que o deixa ainda mais ansioso. Fala com ela, diz que devem separar-se e ficar amigos. Ela lamenta, mas diz OK. Este OK é suficiente para o fazer voltar atrás, e no dia seguinte quer de novo separar-se, e volta atrás de novo.

O Marcel compra-lhe um vestido longo do alfaiate-modista Fortuny. Não consegui perceber se veste como Chanel ou como Dolce & Gabbana.

Um dia acorda de manhã e a empregada diz-lhe que a Albertine se foi embora.

Frases

Volume 6 - Mais valia estar quieto!

Nota: O nome real deste volume é “The Fugitive” (EN).

Depois de o Marcel a controlar durante imenso tempo, a Albertine sai de casa dele em Paris e deixa-lhe uma carta onde diz que quer que fiquem amigos, e que está a sofrer com a separação, e por isso fugiu. O Marcel sabe que a relação ia dar mal, e sabe também que os prazeres que a Albertine lhe dá são piores do que ele consegue arranjar com muitas outras.

Como a relação está frouxa e ela fugiu, o Marcel decide de novo que tem é de casar com ela, como o Swann fez com a Odette. Mas em vez de lhe dizer isso, retoma a troca de cartas com ela. Diz-lhe que não quer que ela volte, que pensa casar com a amiga Andrée, sempre com o desejo que a Albertine fique com ciúme e queira voltar e queira casar com ele.

Ela não cai no truque, ou não percebe. Numa última tentativa, o creep do Marcel manda o amigo Saint-Loup ir a casa da tia dela, a Madame Bontemps, para que esta convença a Albertine a voltar, mas a missão falha. A Albertine diz-lhe que basta que o Marcel peça, que ela volta.

Enquanto ele agoniza sobre os prós e contras, recebe 3 novidades.

A primeira é um relato da madame Bontemps que diz que a Albertine caiu do cavalo e morreu.

Fica em choque.

As outras são da Albertine, que devem ter sido escritas mesmo antes do acidente. Uma que diz que ela ficaria contente se o Marcel ficasse com a amiga Andrée. A última diz que afinal está desesperada para voltar, que gosta é dele, e pergunta se pode voltar!

A-há! Ganhou! Mas a miúda está morta, por isso afinal perdeu.

O Marcel fica mais perseguido ainda. Será que ela tinha gostado mesmo dele? Será que ela era lésbica? Essas, parece, eram as grandes perguntas da vida em 1900.

Para resolver as dúvidas, primeiro contrata um funcionário do hotel de Balbec, Aimé, para ir descobrir se ela tinha de facto andado pela terriola com outras. Primeiro diz que não sabe, que não ouviu muito, só uns zunzuns, mas depois escreve-lhe a dizer que sim, que a Albertine não só se enrolava com umas amigas nos banhos, como também aliciava outras, até mais jovens. Isto convence o Marcel. Mas depois desconvence-se. E se o funcionário Aimé lhe disso isto para valer o dinheiro? E de qualquer forma ela podia gostar de se enrolar com umas miúdas e gostar dele ao mesmo tempo.

Então fala com a Andrée. Ela não está super perturbada com a melhor amiga ter morrido. Já passou. Quando o Marcel tenta confirmar a homossexualidade entre as duas, a Andrée confirma com grande naturalidade que ela sim já tinha feito isso montes de vezes, mas nunca com a amiga! Finalmente o Marcel pode descansar.

Mas não, um stalker nunca fica satisfeito. A sua cabeça anda à roda deste problema.

O tempo vai passando e ele vai olhando para a Albertine de forma mais pacífica. Tanto faz o que ela era ou não. Tinham boas conversas e ela era meiga e ainda se divertiam, bem bom. Fica mais em paz, só que também começa a entrar em misticismos e obscurantismo, há uma breve comunicação com o além onde até a avó dele aparece com o queixo partido (!?).

A Odette entretanto é uma viúva moderadamente rica, e depois da morte do Swann casa com o Forcheville, um aristocrata falido que supostamente lhe dará algum status. Um tio do Swann também morre e a Gilberte, filha do Swann e da Odette, herda uma fortuna incalculável. Faz parte da alta sociedade, e é recebida pelos Guermantes.

O Marcel finalmente publica alguma coisa, um artigo no Le Figaro.

A Andrée visita-o e confessa afinal que todas as suspeitas eram verdadeiras, sim elas estavam de facto enroladas. Mais, a Albertine também gostava do Marcel e se calhar tinha medo dele e provavelmente queria casar com ele. Diz-lhe também que a Albertine andava a entreter outro tipo para talvez casar com ele, como plano para o caso de o Marcel não querer avançar. Afinal as justificações para as aproximações e distanciamentos eram simples. As pessoas são lixadas.

O pintor Elstir, de Balbec, torna-se cobiçado e famoso. Uma das pinturas dele mostra jovens a brincarem perto da água, empurrando-se. O autor pensa se seriam a Albertine e as amigas a aliciarem-se?

O Marcel vai finalmente passear para Veneza, o único sonho constante na sua vida toda. Vai com a mãe.

Nessa viagem recebe no hotel a mensagem transmitida de um telegrama de Albertine, super mal traduzido porque no Hotel não percebem nada. Afinal está viva!? Mas o Marcel não liga muito, seria mau ela estar viva, já não tem grandes sentimentos.

O livro abusa da palavra “azure”. Nada é azul, “blue” ou “bleu”. Para o Marcel, tudo é azure.

Quando regressa a Paris, o Marcel ouve dizer que o amigo Saint-Loup vai casar com a filha do Swann, a Gilberte, que agora é milionária. Faz sentido, os aristocratas estão todos falidos.

O Marcel volta a ser amigo da Gilberte de novo. Visita-a, e falam, sem grande fricção porque já não há vestígio de amor. O Saint-Loup não liga puto ao antigo amigo Marcel, de quem gostava imenso. Só quer que ele faça companhia à sua mulher. Apesar de casado com a Gilberte, o Saint-Loup arranja amantes, e isso destabiliza o casamento. Só que apesar de andar sempre rodeado de mulheres, em vez de ter uma amante, ele é amante do Morel, o violinista que é o ex do seu tio o Barão Charlus.

O Marcel apercebe-se que as notícias que tinha recebido em Veneza afinal eram da Gilberte e não da Albertine, que está morta claro. Isto não causa qualquer espécie de sentimento.

A Gilberte é em geral uma fonas, mas nada que não se resolva. O Saint-Loup oferece prendas à sogra Odette com o dinheiro da mulher, pois a sogra agora já não tem muito dinheiro, e perdeu o segundo marido também. Como troca, a sogrinha defende o Saint-Loup quando ele vai de férias com o “amigo”, e diz à filha que seja generosa e tranquila com o marido, e assim o dinheiro circula. O Saint-Loup também mantém o tio Charlus às escondidas.

Chegado ao final do 6º livro, percebe-se que o Marcel era frágil. Provavelmente também hibernava como os animais, pois quase só existe a primavera e o verão. Os seis primeiros volumes têm pouca chuva, neve, e inverno. A luz, os passeios, as viagens, o sol, os banhos de mar e as tiranias e falhanços do amor são o que o fizeram crescer.

O Saint-Loup deixa a mulher mais uma vez sozinha para ir ter com o namorado. Enquanto dão um passeio, a Gilberte confessa ao Marcel que tinha gostado dele mas que ele não lhe tinha ligado puto.

Volume 7 - Os últimos são os primeiros

Nota: O nome real deste volume é “ Time regained” (EN).

O Marcel e a Gilberte continuam amigos, e passeiam por Combray. O marido dela, Saint-Loup, já não é grande amigo do autor. Continua a procurar homens, e quando é apanhado em viagens “com amigos” faz umas decarações de amor completamente absurdas à Gilberte a ver se ela não se passa.

O autor abandonou a ideia de ser escritor, acha que não tem talento.

Veio a guerra 1a guerra mundial. O Marcel é débil e não se junta. Sofre de saúde fraca, sem explicar qualquer detalhe médico, o que significa que é daqueles que apanha uns resfriados, tem dores de cabeça, sofre de cólicas, é hipocondríaco e é um mariquinhas. O Saint-Loup não vai ao quartel porque afirma publicamente que não tem interesse em morrer, mas secretamente tenta na mesma alistar-se porque é um patriota. O Bloch tenta não ser aceite com a desculpa que vê mal, mas é alistado na mesma. O Barão de Charlus e o Morel já não falam há muito. Ambos seguiram em frente. A Gilberte sai de Paris com a filha, e manda uma carta ao Marcel onde diz que os alemães lá alojados até são simpáticos. O Saint-Loup falha-lhe a descrever a guerra e estratégias.

2 anos depois do início da guerra em 1916 ela ainda mantém a casa dela, tolerando os alemães. Os franceses passam o tempo em previsões de vitórias que não se materializam, sem perder a convicção que vão ganhar. Os alemães pelo contrário arriscam uma fome que aniquila a sua capacidade naturalmente superior. Os raides se aviões são constantes mas as descrições são muito pouco destrutivos para a nossa experiência moderna de leitor e consumidor de guerra.

O Marcel dá uma volta pela cidade escura, onde tudo está fechado ou semi-fechado para dificultar ataques aéreos. Vê um militar de aparência desconhecida a sair de um hotel manhoso. Segue-o. Lá em cima, descobre um quarto onde o barão de Charlus paga a homens para o atarem com correntes e para lhe baterem. À saída cruza-se com o Jupien, o alfaiate, que gere o Hotel todo contente. Encontra também uma condecoração no meio do chão.

O Saint-Loup morre na guerra a proteger a retirada do seu batalhão e o Marcel fica numa nova depressão. A empregada dá-lhe a notícia dizendo que ainda há uns dias tinha lá estado em casa à procura de uma medalha.. Implicando que o Saint-Loupe provavelmente também gostava de uma espancamentos sado-maso. Entretanto o Morel deserta e quando é apanhado chiba-se todo e culpa o Charlus e as suas perversões, e este é preso. Ambos são libertados, e o Morel até ganha uma medalha e fica um tipo respeitável na sociedade.

A guerra acaba, os velhos ricos fingem-se de pobres para não pagar impostos, e os novos ricos compram diamantes para evitar as oscilações das obrigações regulares.

O Marcel vai a uma festa na nova casa do Prince de Guermantes e da Madame de Guermantes. A caminho encontra o Charlus, velho e a recuperar de uma apoplexia (enfarte ou AVC), e a ser cuidado pelo Jupien. Na festa o Marcel é transportado para as suas memórias por qualquer coisa: a entrada, um degrau, um guardanapo. Estas impressões são agradáveis sobretudo para o autor, para o leitor duram 150 páginas mais coisa menos coisa. Ele passa pela razão de ser dos escritores e da arte e da vida. Na sua grande volta menciona até “Board Meetings”, assim garantindo que as mais de 4000 páginas da obra servem para tocar tudo o que se passa no mundo. “Board Meetings ✔️” terá riscado o Proust. Menciona comer madalenas com chá umas seis vezes. Na festa está lá a Odette, ainda bonita, mas sem grande interesse. Está lá o Bloch que é um escritor reputado, mas ainda cheio de manhas. A Madame Verdurin tornou-se a Princess de Guermantes ao casar com o príncipe viúvo. A Andreé e o marido são muito amigos da Gilberte. A Rachel, que era uma meretriz, agora é uma actriz conhecida e amiga da Madame de Guermantes. E assim pessoas ricas tornam-se aristocratas, pobres tornam-se ricos, e as famílias renovam-se.

A Gilberte apresenta-lhe a filha de 16 anos, que bonita. Faz-lo lembrar-se da sua juventude.

No final, o Marcel reflete sobre o que viveu e viu, e decide-se a finalmente escrever um livro, sobre pessoas. A empregada Françoise fica ao lado dele.

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